1. Tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha
uma pedra
A
depressão é uma circunstância difícil. Como na poesia de Drummond, ela nos
obriga a parar na estrada e no tempo. Ruminação, a pedra que não sai da mente.
Impotência, não há força para mover a pedra. Peso de pedra, imobilidade de
pedra, de depressão que paralisa. Se nada enxergamos adiante, se só temos olhos
para a pedra da crise, como abrir caminho?
É
preciso tomar distância, mapear o terreno, reconhecer que um atalho será
trilhado a passo pequeno, cuidadosamente.
Talvez lhe dê algum alento ouvir isso: superada a depressão, você
voltará a caminhar como antes, a estrada da vida terá ganho um valor diferente,
com outros significados. Não estou fazendo apologia do martírio, é um
testemunho da clínica que vc vai confirmar.
2. Mudar a lente
A
depressão tira as cores da vida e transforma o futuro em tragédia. São comuns
as ideias de incapacidade, ruína e culpa. Não tire conclusões sob o domínio da
depressão. Procure contrastar os pensamentos negativos atuais com as
realizações de que foi capaz e com os objetivos pessoais que sempre manteve.
Registre em um papel os pontos positivos de sua vida. Nos momentos mais
difíceis, releia o que escreveu. Procure mudar a lente do negativismo e da
desesperança.
3. Decretar uma moratória
Se você
tivesse sido atropelado por um caminhão e sobrevivesse, já imaginou como seria
sua recuperação...? Então, se você sofre de depressão, de alguma forma você foi
atropelado pelo destino! A melhora leva um tempo, adie decisões importantes, decrete uma
moratória! Combine consigo: Até
determinada data, não me obrigarei a dar uma solução para tal problema; até lá,
procurarei me fortalecer e me proteger.
Se a
depressão estiver relacionada a uma perda ou adversidade, o sentido da vida
terá de ser ressignificado. A passagem do tempo será o remédio capaz de digerir
emocionalmente o que lhe aconteceu.
4. O maior inimigo do bom
Você
já ouviu falar que o maior inimigo do bom é o ótimo? Confirmando: a depressão
impossibilita o mesmo desempenho do passado. Por isso, o nível de exigência
precisa diminuir e temos que nos contentar com o bom. É impossível dar conta de todas as obrigações, como você fazia antes.
Reavalie os objetivos de curto prazo, já que a impossibilidade
de cumpri-los baixará ainda mais a autoestima. Se estiver muito difícil no
trabalho, talvez seja
melhor tirar uma licença médica.
5. Um passo de cada vez
Se
falta iniciativa e energia para sair do lugar, então é preciso dar pequenos
passos, um de cada vez. Se o período da manhã for o mais difícil – isso é comum
na depressão - aproveite o fim de tarde para fazer algo que lhe proporcione
algum alívio: experimente algumas alternativas! E cultive o hábito: atividades
reconfortantes, que não exijam muito esforço.
Aconselho
programar com antecedência algumas atividades ao longo da semana, registrá-las
em um papel, com a ajuda de alguém que lhe apoie. Tudo na medida do possível,
uma coisa por dia, uma rápida saída, um cuidado com a aparência pessoal, um
filme, um café da tarde.
Quando
for se sentindo melhor poderá incrementar as atividades, mas sempre de modo
escalonado e prudente. Por exemplo, caminhar rápido por 40 minutos, quatro
vezes por semana, é altamente recomendável para recobrar e manter o estado de
ânimo. Mas é algo para ser tentado apenas quando você já se sentir pelo menos
50% melhor. Obrigar-se a isso no auge da depressão é crueldade!
6. Mudar o foco
Tente
tirar o foco das preocupações. Não é fácil, é verdade, mas qualquer ganho
conseguido significará menos sofrimento. Para mudar o foco, costumo sugerir,
além de uma programação sensata de atividades ao longo da semana, a mudanças de
ação e de posição do corpo: se estiver sentado e começarem as ruminações,
levante-se e beba um copo d’água; se estiver ouvindo música e começar a se
entristecer, mude a música.
Em
caso de rompimento amoroso, sugiro parar de monitorar, nas redes sociais, o seu
amor perdido. Sei que essa recomendação custa para ser atendida, pois luta-se
contra um comportamento condicionado, semelhante ao da drogadição: o desejo e a
gratificação já não são como antes, mas o querer e o sentimento de necessidade
condicionam a busca por alívio e prazer. Esse último se mantém presente mais na
memória idealizada do que na realidade do ritual de verificação.
7. Lembrar o caráter transitório da depressão
A
sensação de não haver luz no fim do túnel faz parte de uma experiência sofrida
da depressão. Felizmente, ela é limitada no tempo e desaparece com a cura da
doença. É fundamental se lembrar desse caráter transitório dos sintomas.
É
como naquele momento em que o comandante do avião nos avisa para apertar o
cinto de segurança, pois atravessaremos uma área de turbulência. Temos que manter
a esperança de que o pior vai passar e que a viagem seguirá tranquila. É muito
importante manter isso em mente: a depressão vai passar!
8. Tirar a média dos dias
Previna-se
contra as oscilações que normalmente ocorrem durante
o processo de recuperação. Há dias bons e há dias ruins. Esses últimos, quando
interrompem um período de esperançosa melhora, costumam ser devastadores. Para
se avaliar o resultado do tratamento, devemos tirar a média dos dias. Não se
apavore com ocasionais turbulências. Elas são passageiras.
9. Vida espiritual
Muitas
pessoas conseguem manter um fio de esperança, em meio à depressão, ao reforçar
a espiritualidade e a prática religiosa. Essa última, além da crença,
geralmente inclui a participação em cultos e reuniões de fiéis. A
espiritualidade e a prática religiosa fortalecem a esperança, bem como a
sensação de pertencimento, de estar unido a um Deus redentor e a outras
pessoas que compartilham os mesmos ideais.
10. Aceitar
ajuda
Comparecer
às consultas, participar das conversas, interagir, tudo exige um esforço
incomum de quem está deprimido. Nos sentimos desconectados, sem ressonância
afetiva e, comumente, um peso para os outros. Por isso, procuramos o
isolamento, nos irritamos com quem insiste na interação. E pior, às vezes
nutrimos a sensação de que as pessoas não são sinceras quando elas tentam se
aproximar.
Se
não conseguimos valorizar os que tentam nos ajudar, não é por ingratidão, e sim
por que a depressão impede tal percepção, de que podemos, sim, confiar em uma
pessoa e aceitar sua ajuda. Evite se isolar. Procure se cercar de pessoas
queridas.