DISTIMIA: QUANDO O MAU HUMOR É DEPRESSÃO




Doutor, será que eu posso tomar esse remédio pra sempre? É que em 78 anos de vida, eu nunca me senti tão bem como nesses últimos meses. E não sou só eu que reparo, não. Os filhos também; estão contentes porque agora converso com eles, fico mais tempo na sala, brinco com os netos. Antes nada estava bom, o tempo todo remoendo os problemas, me isolava e não conversava, implicava com todo mundo... O remédio me deixou menos ranzinza, doutor...

Estava bem há quatro meses, após ter saído de uma grave Depressão que durara um ano. Esse senhor, sua família e seu psiquiatra estavam tão surpresos quanto intrigados. Ele estava vibrante, mais ativo. Agora participava da vida familiar, sentindo, enfim, prazer de estar vivo. Tudo isso sem exageros; não era o remédio deixando-o elétrico ou inadequadamente eufórico! Todos se perguntavam: será que a vida inteira ele tinha sido mal-humorado e irritadiço por causa de algum distúrbio na química cerebral, agora corrigido pela medicação?! 

DISTIMIA: SAIBA MAIS SOBRE O SIGNIFICADO DESTA PALAVRA E SOBRE UMA OPÇÃO DE TRATAMENTO PARA ESSE TIPO DE DEPRESSÃO.
BREVE HISTÓRICO

Na Antiguidade gregaq acreditava-se que o a combinação duradoura de medo e tristeza era causada por excesso de um dos quatro humores fundamentais, a bílis negra, ou melaina cole na transliteração para o Português. Daí, o termo melancolia. Desde a origem, esse termo – melancolia –  foi associado ora ao temperamento, ora a uma doença.



A partir do século XIX, uma nova palavra, Distimia, passou a ser utilizada para denominar uma forma atenuada e duradoura de Depressão. Ao longo dos anos,  achados científicos empíricos acabaram por definir,
na década de 1980, o quadro clínico de Distimia, de curso crônico (duração maior do que dois anos) e com sintomas de menor intensidade do que  se observa em casos graves de Depressão. 
A partir de então, houve drástica mudança terapêutica, e hoje sabemos que pessoas com “personalidade depressiva” ou “mal-humoradas” podem reagir bem ao uso de antidepressivos, com melhora na qualidade de vida. Tudo isso é bastante instigante, pois põe em questão a relação entre personalidade, transtornos depressivos e suas bases biológicas. Muita pesquisa nessa área continua sendo realizada, e, certamente, haverá avanços na compreensão e no tratamento da Distimia


SINTOMAS

Pessoas que sofrem de Distimia não formam um grupo homogêneo. Podem-se observar diferentes combinações dos seguintes sintomas: humor deprimido na maior parte do dia, irritabilidade, raiva inadequada, perda do interesse ou do prazer, baixa energia, fatigabilidade, baixa auto-estima, auto-reprovação, retração social, preocupação excessiva (ruminações, culpa), dificuldade de concentração, indecisão, pessimismo, desesperança, sensação de inadequação.


Ele prefere ficar isolado e em silêncio, com um ar de tédio ou de irritação. Se a gente se aproxima e tenta puxar conversa, ganha desprezo, às vezes uma grosseria. Quando fala, parece que só ele sabe, que só ele sofre, desconsidera as pessoas... É teimoso e cada vez mais intolerante e mal-educado!


Os sintomas começam usualmente no início da vida adulta (mas também podem se iniciar na infância ou adolescência) e duram vários anos. Causam sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas significativas.  

A maior parte das pessoas com Distimia teve ou terá Depressão. É comum haver familiares com Depressão, o que fortalece a hipótese de uma tendência herdada, comum, para essas condições. Frequentemente, à Distimia sobrepõem-se outros problemas psiquiátricos, como ansiedade e uso abusivo de álcool.


TRATAMENTO MEDICAMENTOSO

O que se pode pensar em relação ao caso clínico que inicia esse post? Além de ter melhorado da Depressão que o acometera mais recentemente, o paciente ficou livre dos sintomas da Distimia que ele carregava por longos anos de sua vida. Até então, as pessoas julgavam que sua personalidade que era problemática. Não se reconheceu e nem foi feito diagnóstico de uma condição médica tratável!

“Enfim, o diagnóstico e o tratamento correto da Distimia colocam-nos ante a feliz oportunidade de auxiliar pacientes que, em geral, não têm a menor idéia de que estão doentes e podem ser tratados com sucesso.”
                  (Fonte: Distimia: do mau humor ao mal do humor. Editora Artes Médicas, 1997, p. 41)


 O reconhecimento da Distimia como um transtorno de humor, bem como a eficácia dos antidepressivos em seu tratamento foram, na prática, um divisor de águas para muitas pessoas que não conseguiam melhorar substancialmente sua qualidade de vida por meio da psicoterapia. Além disso, pelo fato de a Distimia ter um valor preditivo em relação a futuros episódios de Depressão, o tratamento adquire função preventiva.

No tratamento emprega-se, de modo geral, a mesma lógica do tratamento da Depressão (ver Depressão: Tratamento Medicamentoso). Procura-se elevar, com os antidepressivos, a disponibilidade de neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e dopamina), substâncias essenciais na comunicação entre as células cerebrais e, em conseqüência, na regulação do humor.

A escolha do medicamento a ser empregado leva em conta nuances do quadro sintomatológico, doenças que a pessoa tenha e a possibilidade de interação com outros medicamentos, além de histórico de resposta a diferentes classes de antidepressivos. É necessário um período de latência de 2 a 8 semanas. Frequentemente, é necessário ajuste de dose. Quando, passado esse período, não houver melhora, geralmente utiliza-se novo antidepressivo, com outro mecanismo de ação.

Os medicamentos são capazes de melhorar um comportamento disfuncional duradouro, sem alterar a sua causa (etiologia). Isso implica tratamentos prolongados, por meses a anos. A interrupção do antidepressivo, principalmente quando feita precocemente, leva à recaída ou a episódios de Depressão. Muitas vezes a interrupção é ocasionada por efeitos adversos, entre os quais variação de peso e disfunção sexual.

O uso de medicação é apenas parte da abordagem terapêutica e é importante lembrar que não são todas as pessoas que melhoram com os antidepressivos. A psicoterapia continua a ser empregada no tratamento da Distimia, principalmente a de referencial cognitivo-comportamental. O apoio da família é essencial e é abordado em Depressão: Como a Família Pode Ajudar.

Temas relacionados ao Transtorno Afetivo Bipolar poderão ser lidos nos seguintes posts:                
TRANSTORNO BIPOLAR: A QUESTÃO DO DIAGNÓSTICO                                                                                                            
TRANSTORNO BIPOLAR: O QUE É “DEPRESSÃO BIPOLAR”?                                                                                                      
TRANSTORNO BIPOLAR: AS BASES DO TRATAMENTO                                                                                                                 
TRANSTORNO BIPOLAR: A FAMÍLIA LIDANDO COM A CRISE                                                                                                     

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DEPRESSÃO: COMO A FAMÍLIA PODE AJUDAR                                                              
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DEPRESSÃO COM “D” MAIÚSCULO                                                                                 

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TRANSTORNO DEPÂNICO E AGORAFOBIA                                                                                                                                     
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