INSÔNIA: VAMOS COMBINAR?

Sair do consultório médico com receita de um medicamento para dormir dá esperança de que o problema da insônia será resolvido. Que bom se isso de fato acontecer, pois precisamos dormir bem para o dia seguinte começar bem. Mas vale lembrar que um medicamento hipnótico é apenas parte de uma estratégia de tratamento! Não espere que ele, sozinho, resolva o problema! Afinal, depender de hipnóticos para poder dormir é a melhor perspectiva para o futuro?


Não basta a medicação. A dificuldade para dormir é condicionada por uma série de comportamentos que costumamos repetir toda noite.


MUDANÇA DE HÁBITOS

Os relatos a seguir são de pessoas que se queixaram de insônia durante a consulta. Todas pediram medicação para dormir. Que mudanças de comportamento poderiam ser sugeridas a elas?

1.   Peguei esse costume de dar uma corrida pelos canais de TV antes de me deitar. Penso que pode estar passando alguma coisa interessante e que, se eu não assistir, depois vou me arrepender...

2.   Às vezes fico na internet e, quando me dou conta, já são duas... três horas da madrugada! Aí não tem jeito, desligo o computador correndo e vou pra cama, tenho que acordar cedo.

3.   É só chegar a hora de ir pra cama, que fico apreensivo: e se eu não conseguir pegar no sono? Então já tomo o remédio [pra dormir]. Posso até já estar com um soninho, mas tomo assim mesmo. E se eu acordar de no meio da noite?! Ninguém merece uma noite em claro!

4.   Toda noite é a mesma coisa: eu me deito e não consigo parar de pensar, e só vêm problemas. Repasso o que me chateou durante o dia, ou o que tenho que fazer no dia seguinte. Fico olhando para o relógio, o tempo vai passando e eu não consigo adormecer...

5.   Geralmente acordo uma ou duas vezes pra ir ao banheiro. Aproveito e vou até a cozinha beber água, às vezes faço uma boquinha... Depois demora pra eu pegar no sono de novo...


São bons exemplos do que pode ocasionar e manter uma insônia. Então é preciso interromper certos comportamento e adotar outros, ligados ao adormecer. Uma psicoterapia cognitivo comportamental pode ajudar nesse sentido. A seguir, há algumas sugestões para se dormir melhor. Quais você poderia adotar? 


*      Para dormir, os animais guiam-se pela natureza. O homem, nem sempre. Então é preciso avisar e reacostumar o cérebro (por meio de comportamentos que vamos adotando) de que é hora de dormir, de que ele deve ir se desligando.

*      Crie um ambiente que favoreça o dormir. Pense em como proceder com TV, computador, celular, luminosidade, barulho... Respeite as decisões tomadas! Quer dizer, respeite sua necessidade de dormir e não espere que apenas o remédio faça a parte dele!

*      Mantenha a regularidade. Ter hora rotineira para deitar e para acordar é importante para ajustar o relógio de nosso organismo e manter o ritmo biológico.

*      Estabeleça a hora em que vai desligar a TV. Então use o controle remoto apenas para... desligá-la! Não fique pulando de um canal pra outro, o que causa solavancos de alerta em seu cérebro.

*      É você quem deve controlar o seu tempo na internet, e não o contrário.  A partir de certa hora, afaste-se de computador e silencie notificações do celular.

*      Antes de ir pra cama, você pode anotar em um papel as tarefas do dia seguinte. É importante desvincular o ato de se deitar ao repasse do que lhe aconteceu no dia ou à memorização das obrigações do dia seguinte.

*      Crie boas condições para uma noite de sono: banho morno, roupa mais confortável, um canto da sala, música suave, leitura amena sob luz fraca, técnicas de respiração e de relaxamento. Leia mais sobre isso neste blog.

*      Vá para a cama apenas quando estiver com sono e, caso não adormeça rapidamente, procure aceitar essa dificuldade. Não adianta se irritar ou ficar se culpando.

*      Sempre ative o despertador, assim terá certeza de que irá acordar na hora desejada. Não fique toda hora vendo que horas são, você não é um vigilante! Ficar controlando o tempo ocasiona e incrementa a insônia. Se acordar, respire fundo, procure se acomodar, e não olhe para o relógio.

*      Não brigue com a cama. Se não conseguir dormir, levante-se e tente fazer algo que não te deixe muito ligado. Evite TV, internet, acender luzes, comer, beber, fumar.

*      Durma o tempo suficiente para se sentir bem. Ficar na cama mais do que o necessário, bem como dormir durante o dia, pode prejudicar o sono da noite seguinte.

*      Exercícios físicos feitos pela manhã ou no fim da tarde ajudam a dormir. E não custa lembrar algumas coisas que devem ser evitadas à noite: refeição pesada, cigarros, café, chá preto, refrigerantes e bebidas alcoólicas.


HIPNÓTICOS: COM CUIDADO E APÓS UM DIAGNÓSTICO


É preciso definir o tipo de insônia e os sintomas que a acompanham: em que momento da noite há insônia, se sono é interrompido abruptamente, se é acompanhado por roncos, se há movimentos incessantes de pernas, sonolência diurna. Se há desânimo, falta de alegria e de prazer, irritabilidade, uso de medicamentos, abuso de álcool ou de outras drogas. Cada uma dessas situações liga-se a problemas clínicos distintos. Geralmente, com o tratamento da patologia de base, volta-se a dormir bem, nem sempre sendo necessário um hipnótico. O correto, portanto, é procurar esclarecimento médico e tratamento específico.


O tratamento da insônia requer um diagnóstico preciso, a escolha de um medicamento apropriado e o uso de técnicas comportamentais.


Inicialmente, dá-se preferência a drogas com baixo potencial de dependência e de tolerância. Elas auxiliam o sono, sem que sejam, no sentido estrito, hipnóticas. Exemplos: anti-histamínicos, relaxantes musculares, certos antidepressivos, melatonina. Evitam-se hipnóticos benzodiazepínicos (embalagens com tarja preta). Eles podem causar dependência, prejudicar a memória e a coordenação motora, entre outros efeitos adversos. A retirada desses medicamentos deve ser feita sob supervisão médica. 

Certos hipnóticos (zolpidem, zopiclone), embora não venham com tarja preta, podem causar dependência e diminuição da memória e, ocasionalmente, sonambulismo. Após tomá-los, evite iniciar tarefas e vá direto pra cama! Não podem ser misturados com álcool. Avalie se está em condições de dirigir.

Se você começou a tomar um hipnótico, pense que não será para sempre! Hipnóticos devem ser prescritos e usados à maneira dos antibióticos: na dose recomendada e por tempo limitado. Vamos combinar!


Veja neste blog:

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